A BAILARINA QUE NÃO RECEBEU FLORES

Alguém me contou, e eu conto pra você.

A dança é sua vida. Mas ela foi descobrindo isso aos poucos.Começou como a maioria começa: aula duas vezes por semana numa pequena academia. A primeira apresentação foi no palco de um clube, usado geralmente pela banda que vinha animar as festas mais chiques. Dançou balé e jazz. A maquiagem e o cabelo feitos no salão de beleza, um capricho da mãe, destoavam um pouco do figurino simples que incluia um par de botas, desssas que se usam no inverno. A então criança na época, precisou tomar um calmante (natural claro, água de melissa. Ainda existe?) tamanha a ansiedade. No ano seguinte, decisão tomada pelos pais, foi para "a maior academia de dança da cidade" que na época já trazia professores dos grandes centros para dar aulas. Com os professores de fora (que não duravam muito na academia) ela sempre se "dava bem" mas, nas apresentaçõs de fim de ano...Os pais pagavam com dificuldade "a mais cara academia da cidade".
O tempo foi passando. Ela parou de dançar. Foi quando a mãe notou que a dança a deixava mais alegre, vibrante e levou-a para assistir o espetáculo de outra escola. Ela lembra com clareza da bailarina correndo pela platéia fugindo de algum personagem malvado da história, que não lembra mais qual era. Junto com a bailarina ela correu de volta para a dança  e não parou mais. Dançou, dançou, dançou...começou a dar aula, fazia muitos cursos, viajava para dançar com a cia. de que fez parte, se machucou, se recuperou, fez amizades que ficaram para sempre, viu bailarinas incríveis, aprendeu com professores e coreógrafos famosos e outros nem tanto,dançou, dançou, dançou!!!
Em sua vida quase anônima na dança, afinal não morava num grande centro, e era conhecida apenas em sua cidade pelas pessoas que também dançavam, era bem feliz. Nunca foi, "primeira bailarina" daquelas que fazem o agradecimento sozinha e recebem flores...pelo menos os que a dirigiam nunca disseram e quando a chance apareceu a coreografia não entrou para o repertório da cia. Dançou durante muitos anos vendo e vivendo muitas mudanças, inclusive em sua vida particular. Chegou o dia de retirar as sapatilhas dos palcos afinal, nada é para sempre. E assim foi. Devolveu os figurinos, e doou os que usou quando criança, que ela ainda guardava, organizou os recortes de jornais, os programas que tinham seu nome, as fotos. Mas uma coisa ela não encontrou. Procurou muito e triste achou  que tinha perdido. Mas como isso foi acontecer, perder uma coisa que era tão importante pra ela? Então como que atingida por um raio, ela percebeu que não tinha perdido a  flor, já seca pelo tempo em sua imaginação. Não adiantava mais procurar. Foi um desejo não concretizado. Respirou fundo, colocou tudo que tinha juntado durante os anos de dança numa caixa e na tampa escreveu assim: lembranças da bailarina que nunca recebeu flores.

HOJE
UnikaDança e Convidados 2011
Teatro Glauce Rocha - UFMS
20h

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